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Ele olhou-me olhos adentro. Como se tivesse o poder de colocar fogo dentro de mim. Olhou-me por alguns demorados segundos, suficientes para acelerar o coração, provocar tremores de pernas e frio na barriga. Em seguida, com um ar intrigado, disparou a pergunta:
- Qual a cor dos teus olhos?
- Castanhos eu acho, respondi insegura.
Procurei desconcertada pelo espelho perdido na bagunça da bolsa, num movimento bobo para verificar o que eu já sabia.
- São castanho-escuro, falei com voz firme, tentando disfarçar o nervosismo que se apossava de mim.
- Eu vi, têm uma coisa estranha neles. Olhou-me agora com uma atenção maior ainda, como se fosse um médico procurando encontrar a causa da dor que o paciente sentia, como se quisesse desvendar o mistério do defeito da máquina, depois que vários especialistas falharam em suas tentativas.
Ele fala com a voz segura, típica de quem têm um diagnóstico preciso a oferecer:
- É difícil olhar para ti. O escuro do teu olhar assusta. É perturbador.
“E os seus olhos têm cor de mar revolto, assustam mais do que os meus”, ela pensou sem ter coragem de verbalizar os pensamentos. E quanto mais pensava nos olhos de mar, mais uma seqüência de pensamentos inconfessáveis ia tomando conta dela, querendo sair dela, para que ele soubesse, que ele estava rompendo suas fronteiras e quanto mais ele olhava desavergonhadamente para ela mais ela se inflamava e tentava ocultar o fogo, mas fogo não é coisa fácil de se disfarçar e ela começou a suar, o rosto vermelho, ai que calor está fazendo nesses dias, ai como eu tenho vontade de navegar nesse teu mar para encontrar tua calmaria escondida, mas antes quero toda a turbulência, quero a violência do desejo, quero conhecer o efeito dos teus poderes no meu corpo, que você me desorganize inteira, sim, eu sei, meus quereres são perigosos, podem trazer danos futuros, mas existe dano maior do que passar a vida navegando em águas calmas e seguras? tenho um amor passional pela vida, estou entregue às correntezas, de quando em vez vêm uma enchente , uma inundação inesperada que quase me mata, mas eu sobrevivo, eu sobrevivo, sou urgente como os melhores arrebatamentos, não se assuste comigo, não tenha medo de mim, me tenha livre, livre, livre, que eu sei mergulhar no teu oceano, mas também vôo, vôo, que nem você, sou borboleta, sou pássaro e qualquer coisa a gente escapa daqui, vai para um lugar melhor, mas vamos, porque a vida é urgente e passa rápido, rápido, rápido demais.
Ela ainda não sabia, mas os olhares dos dois teciam caminhos recíprocos, ocultos apenas pela ausência da fala e dos gestos...

1 simpáticos comentários:

- Mirnª disse...

Preciso dizer alguma coisa?
Simplismente,Maíra em palavras! Linda! :D

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